Tuesday, October 10, 2006

Carta a Jorge Alves

Meu prezado Camarada:

De Celorico vos escrevo. Espero encontrar-vos de boa saúde, pois da última vez que vos vi não aparentáveis boa figura. Não percebo com podeis por-vos mal disposto numa terra destas (que admiro e exulto num poema que mais tarde vos envio), conseguindo sobreviver no meio da poluição e da agitação dessa bela tristeza que todos adoram. Lamentavelmente vos comunico o que me leva a contactar-vos: minha pobre irmã adoeceu e neste encantado mundo genuíno não encontramos a cura... que deveria estar nas flores e nas águas da fonte, mas parece que lhe fugiram... (talvez por não se acercar da plenitude natural). Esperemos que não seja apenas uma fita tonta para vos visitar e para endoidecer tanto consigo como com esse caos ensurdecedor. Enfim..., já deveis ter percebido que recorremos à vossa benovolência para que possamos tratar da catraia. Desagrada-me também a solidão em que viveis e teria todo o prazer em mostrar-lhe quanta felicidade se pode encontrar numa (tida por vós) simples árvore, ou mesmo num vento leve ao entardecer (não menosprezando as outras horas do dia, claro). Felizmente não partímos sós, a Natureza é grandiosa em também aí vai ser o meu único refúgio para contradizer o maldito caos. Contra o meu agrado, pois não tenho pressa em deixar de Viver realmente, temos urgência em partir e gostávamos de uma resposta breve.

com sinceridade e apreço,
Artur

Saturday, October 07, 2006

sem nome (quem será, quem serei)

Ufaa.! Mais uma interjeição para exprimir um alívio temporário, infelizmente. Ainda que com dificuldades, consegui arranjar um tempinho para rabiscar e vos deixar a par das minhas preocupações momentâneas. Peço desculpa aos demais que quase me imploraram para gritar mais cedo… mas as férias chegaram e passaram e as aulas roubaram-me! Apesar disso ajudaram-me a descobrir-me e a perceber que talvez tenha alguém dentro de mim a querer sair.
Já ouviram falar em heterónimos? Provavelmente… muito queridos pelos mais pequenos como refúgio à desilusão e caminho para a fantasia. Mas dei-me comigo a pensar… porque não posso também eu ser eu e eu? É… apercebi-me que talvez haja mais alguém quando caminhava até casa e olhei para a sombra ditada pelos candeeiros nocturnos de uma rua impertinente. Talvez este seja mais um desvaneio comum ou mesmo um pretexto para poder escrever sem cair na monotonia inconstante e supérfula que às vezes se apregoa, mas acho que só sabei realmente depois dele aparecer. Se entender morrer que o faça, mas longe de mim.
Andei à procura de um nome para este desconhecido que comigo partilha (ou tem partilhado) o corpo, mas não a alma. Um nome talvez tão sombrio como a ideia de ter alguém escondido nesta sombra viva que não me larga e tão alegre como a felicidade de me separar e poder viver uma segunda vez. Pessoa lá encontrou os seus, e talvez venham a falar Comigo, mas ainda não chegaram… não há pressa. Quando será que chegarão, tanto eles a mim, como eu a mim mesmo? Onde estarei quando baterem? Num sótão, num baloiço? Numa lua ou num semáforo? Num sítio… num sonho.
Nunca sei se devo dormir... Às vezes tenho medo porque não sei se irei sonhar. Não sei como sonhar. Alguém me conta como faz? É que poderei lá estar, mas não sei como lá ir ter… e ainda espero poder encontrar quem quer que seja.

Caso se lembrem como sonhar
Contem-me por favor!
E já agora como irei chamar
Se vir o meu outro senhor…(?)…


Como me chamo?