Sunday, November 12, 2006

O duo sem dueto


Parecia um pobre moço, e pelintra, e desajeitado, e mal vestido
Cuja bailarina mirou.
Convidaram-se para dançar
E num breve sopro de mis e fás
Lá foram eles:
Un, deux, trois, Mazurca.
Às voltas e voltas a perfeição ganhou vida
Entre tantas outras.

O foco caído em mim, frente à música,
E eles lá voavam e sonhavam saltitando.
Um perfume encantador
Para qualquer bailado que apaixona e delicia.
Afinal, sob aqueles trajes melindrosos
Corria uma paixão:
O gosto pelos passos.


E ao sabor da música
Lá se encostaram e conheceram.

Ao despedir-se, ela, sentou-se pouco ao meu lado
E ele…
Ele lá foi tocar pra ela. Feliz.
E eu… limitei-me a felicitá-los e a sorrir.
Registar e atentar naquela pequena valsa. Feliz.
(e, um dia poder, sonhando, saber saborear sabiamente
Como eles o fizeram.)

Mais uma vez, sem mim, passou
A saltar, numa onda de reviravoltas.
Passos perfeitos sobre um chão brilhante
Que se enaltecia com todos os rodopios.


Tari… Tarã, …
Onde está ela?
Parece que voou de vez.
Pra longe de mim e de todos.
Pra um sítio bem alto que o das aves incultas.
Que as arvorem amparem quando for dormir.
Quando trincar o sabor da horas passadas e atentas
Que a amarram e manipulam.


Tari... Tarã… Tari, tari… Tarã…
Ai… quão bela é toda esta canção
Que também ela me manipula e incita a soletrar:
"V A I C O R R E R !
Procurar quem queira sorrir."
[Mas também ele a buscava, entre bustos e marionetas
Ao longe, sob vermelho.
Mesmo não a vendo (julgo eu)
Continuou a tocar e a soprar a vontade de dançar.
Outra vez.]

Tarã, tarã, tarã…!
Quem quererá dançar com alguém como eu.
Uma pobre criatura, no amarelo, a preto e branco,
Sentada ao palco, e a escrever.
Mesmo assim, já tenho saudades de escolher alguém.

TARÃ!
Oh Mazurca maldita que me impedes de ser feliz sem ela.
A bailarina donzela, que me aflita,
E me seca a goela, branquela,
Por baixo da luz amarela,
Com a flor que me socorreu da trágica falta de tinta.

Há quem lhe chame sinal,
Para não amaldiçoar e dançar e sorrir para o lado.
Olhar para a frente.
O palco quase vazio sem o flautista francês
E sem o anjo cobiçado.


Mais uma vez a melodia embebeda na ilusão
Qualquer sapateado dançante.
(e dentre a multidão, onde alguns trincam a maçã das árvores
Com a cara dos curiosos, a sorrir,
Surge o rapaz que ajuda a serpentear.)

Piruli… pirulá.
E na última dança lá fugiu ela,
Renegando aqueles passos reles.

Mas voltou.
Agora com o homem do tempo,
Eternizava os movimentos e alegrava o pobre velho.
Contente com todo o tudo, a cantar:
Piruli… pirulá… pirulé.

Ao som da música invejosa do pequeno flautista
Que um dia ousou escolhê-la pra dançar.

Eu consegui sobrevier, ao lado,
(porque olhei para o lado),
De uma menina alegremente cansada.
Entre dicas e conselhos lá andei eu de um lado para o outro
Agarrando costas cada vez mais deformadas.
Tudo pelo extravio imaginário do pequeno Querubim
Que encanta qualquer alma conhecida.
Como dois discípulos fies,
Sentaram-se aos seus pés,
Duas donzelas morenas que a entretiam.
E ela...
Ela lá olhou uma última vez
Para a flauta que a fez dançar e voa.

Maldita Mazurca rangida
Que abraçado a uma Maria
Me fez odiar o vento.
Com brisas de prazer, talvez penas abandonadas,
Lá fui eu avançando e cansando
A música que parecia eterna
Mesmo sem o flautista chorão que fugiu do palco mor.
Resolveu actuar com maior prazer num WC imundo
Deixando a outra voar.
Ah… ah!

Afinal não! Felizmente!
Olhou para baixo e dançou com uma galinha,
(Que não voava, mas também o satisfez)
Olhou de vezes a vezes para o alto,
À procura de um sinal. De uma mão
De um olhar que o deixasse sorrir novamente.

Confuso? Não mais que eu ao valsear e versejar
Nas tábuas imaculadas que ambos pisaram.

Afinal conseguiu! Juntou-se à pequena e
Mesmo escondendo o sorriso numa cara simplória
Via-se nos passos dele que realmente triunfara!
(Agora poderá partir com um cheiro mais intenso)


E assim terminou com as saias redondas
Que morriam nas calças.
Com os passos que viviam a sabedoria.

Sozinhos na pista todos os desejavam.
Pobre perfeição esverdeada.

Também quero!


Tã!

Wednesday, November 01, 2006

o coelho comilão

Quanto viverei?
Nem eu sei
Nem saberei...
talvez até nem morrerei...!


Porque a morte é para os fracos,
porque as árvores não morrem verdadeiramente.
talvez o corpo que pensa e que enoja.
Sim, esse talvez morra mais tarde.
Porque enquanto pode
delicia-se com doces e doces manjares:
Bibliotecas e escolas amarelas.
eu só quero voar e amar
o amor e os amores. (as flores).


Porque um dia talvez cegue
e não possa encontrar o que de mais belo há.
ou talvez os médicos pensadores me possam ejectar
uma boa dose de sanidade e razão.
talvez me curem deste sonho encantado.

Por enquanto vou continuar
a molhar os pés no rio e a nadar
para a frente.
Vou juntar-me aos peixes e às algas,
ao sol e à chuva. e vou cantar.

- Quão bom é poder imaginar nas nuvens
um coelho comilão. (ui! estava a dormir!)

- Quão bom é poder ver a chuva a dançar com o vento.
Poder ver a chuva a fazê-lo assim:

Para cá e para lá,
às voltas e voltas e voltas.
(Numa rua deserta e coberta de folhas,
convidadas por ele,) vi-os assim.

Um dia talvez possa voar e dançar docemente. deslizando
e vendo quão belo tudo é.
Isto se o fino das fábricas e o pensador obestinado,
de tanto pensar, me deixar
Abrir as pupilas benditas
que nos ajudam a sorrir.

Nas paragens desertas já não se pode cantar.


Artur

(absurdo ter falado enquanto estudava...
o coelho fugiu, mas já voltou)