O duo sem dueto
Parecia um pobre moço, e pelintra, e desajeitado, e mal vestido
Cuja bailarina mirou.
Convidaram-se para dançar
E num breve sopro de mis e fás
Lá foram eles:
Un, deux, trois, Mazurca.
Às voltas e voltas a perfeição ganhou vida
Entre tantas outras.
O foco caído em mim, frente à música,
E eles lá voavam e sonhavam saltitando.
Um perfume encantador
Para qualquer bailado que apaixona e delicia.
Afinal, sob aqueles trajes melindrosos
Corria uma paixão:
O gosto pelos passos.
E ao sabor da música
Lá se encostaram e conheceram.
Ao despedir-se, ela, sentou-se pouco ao meu lado
E ele…
Ele lá foi tocar pra ela. Feliz.
E eu… limitei-me a felicitá-los e a sorrir.
Registar e atentar naquela pequena valsa. Feliz.
(e, um dia poder, sonhando, saber saborear sabiamente
Como eles o fizeram.)
Mais uma vez, sem mim, passou
A saltar, numa onda de reviravoltas.
Passos perfeitos sobre um chão brilhante
Que se enaltecia com todos os rodopios.
…
Tari… Tarã, …
Onde está ela?
Parece que voou de vez.
Pra longe de mim e de todos.
Pra um sítio bem alto que o das aves incultas.
Que as arvorem amparem quando for dormir.
Quando trincar o sabor da horas passadas e atentas
Que a amarram e manipulam.
…
Tari... Tarã… Tari, tari… Tarã…
Ai… quão bela é toda esta canção
Que também ela me manipula e incita a soletrar:
"V A I C O R R E R !
Procurar quem queira sorrir."
[Mas também ele a buscava, entre bustos e marionetas
Ao longe, sob vermelho.
Mesmo não a vendo (julgo eu)
Continuou a tocar e a soprar a vontade de dançar.
Outra vez.]
Tarã, tarã, tarã…!
Quem quererá dançar com alguém como eu.
Uma pobre criatura, no amarelo, a preto e branco,
Sentada ao palco, e a escrever.
Mesmo assim, já tenho saudades de escolher alguém.
TARÃ!
Oh Mazurca maldita que me impedes de ser feliz sem ela.
A bailarina donzela, que me aflita,
E me seca a goela, branquela,
Por baixo da luz amarela,
Com a flor que me socorreu da trágica falta de tinta.
Há quem lhe chame sinal,
Para não amaldiçoar e dançar e sorrir para o lado.
Olhar para a frente.
O palco quase vazio sem o flautista francês
E sem o anjo cobiçado.
…
…
Mais uma vez a melodia embebeda na ilusão
Qualquer sapateado dançante.
(e dentre a multidão, onde alguns trincam a maçã das árvores
Com a cara dos curiosos, a sorrir,
Surge o rapaz que ajuda a serpentear.)
…
Piruli… pirulá.
E na última dança lá fugiu ela,
Renegando aqueles passos reles.
Mas voltou.
Agora com o homem do tempo,
Eternizava os movimentos e alegrava o pobre velho.
Contente com todo o tudo, a cantar:
Piruli… pirulá… pirulé.
Ao som da música invejosa do pequeno flautista
Que um dia ousou escolhê-la pra dançar.
Eu consegui sobrevier, ao lado,
(porque olhei para o lado),
De uma menina alegremente cansada.
Entre dicas e conselhos lá andei eu de um lado para o outro
Agarrando costas cada vez mais deformadas.
Tudo pelo extravio imaginário do pequeno Querubim
Que encanta qualquer alma conhecida.
Como dois discípulos fies,
Sentaram-se aos seus pés,
Duas donzelas morenas que a entretiam.
E ela...
Ela lá olhou uma última vez
Para a flauta que a fez dançar e voa.
Maldita Mazurca rangida
Que abraçado a uma Maria
Me fez odiar o vento.
Com brisas de prazer, talvez penas abandonadas,
Lá fui eu avançando e cansando
A música que parecia eterna
Mesmo sem o flautista chorão que fugiu do palco mor.
Resolveu actuar com maior prazer num WC imundo
Deixando a outra voar.
Ah… ah!
Afinal não! Felizmente!
Olhou para baixo e dançou com uma galinha,
(Que não voava, mas também o satisfez)
Olhou de vezes a vezes para o alto,
À procura de um sinal. De uma mão
De um olhar que o deixasse sorrir novamente.
Confuso? Não mais que eu ao valsear e versejar
Nas tábuas imaculadas que ambos pisaram.
Afinal conseguiu! Juntou-se à pequena e
Mesmo escondendo o sorriso numa cara simplória
Via-se nos passos dele que realmente triunfara!
(Agora poderá partir com um cheiro mais intenso)
…
E assim terminou com as saias redondas
Que morriam nas calças.
Com os passos que viviam a sabedoria.
Sozinhos na pista todos os desejavam.
Pobre perfeição esverdeada.
Também quero!
Tã!